A população é frequentemente vista como um problema. Se cresce rapidamente,
teme-se a explosão demográfica; se declina, haverá queda do crescimento
econômico; se envelhece, aumentará o peso sobre as contas públicas. O que a
demógrafa Ana Amélia Camarano, organizadora deste livro, sugere é simples:
vermos a dinâmica da população, em cada um dos estágios, como um dado da
realidade ao qual nos adaptar. A população é a essência das nações, não existe
nação sem povo. Portanto, a sugestão é a de que estudemos mais o assunto. Este
livro, que comemora os 50 anos do Ipea, analisa, pelos mais variados ângulos,
esse instigante tema.
Chega em excelente hora. O amadurecimento do Brasil exige, de toda
a sociedade, um esforço mais profundo para entender o que realmente está
acontecendo conosco, o que está contratado para ocorrer no futuro e os
fatos dissonantes. As surpresas que nos trazem os estudos de população são
inesgotáveis, principalmente quando os demógrafos se juntam aos economistas
para fazer seus estudos e cruzar os dados.
Se a população está vivendo mais, é claro que as pessoas estão saindo mais
tarde do mercado de trabalho. Não no Brasil. Os homens estão saindo mais cedo
e alguns não por aposentadoria; ficam sem trabalho pelas barreiras impostas pelo
preconceito. Isso não é compatível com o nosso regime demográfico, alerta
o livro. O mercado de trabalho reclama de falta de mão de obra e barra os
trabalhadores maduros que, em poucas décadas, serão metade da população.
Se o percentual de jovens está caindo, a tendência será a de diminuir o
número total de mortes por causas externas – acidentes ou crimes –, que atingem
principalmente os rapazes. Essa é a lógica, mas, apesar de ter havido queda de 4%
na proporção de jovens de 15 a 29 anos entre 1991 e 2010, a taxa de homicídios
nessa faixa aumentou 30%.
As mulheres estão ampliando sua entrada no mercado de trabalho? Sim, isso
aconteceu até 2008 e de lá começou a declinar. Um dos motivos é a necessidade
de mulheres, em idade produtiva, na atenção aos mais velhos da família. Com
o envelhecimento da população, cuidar de idosos com doenças incapacitantes
continuará sendo apenas responsabilidade da família?
Uma população mais velha, como seremos nas próximas décadas, terá uma
pegada ecológica menor pelos seus hábitos de consumo. É o que mostra um
dos estudos. Os eventos extremos das mudanças climáticas, no entanto, afetarão
mais os idosos.
Há uma série de perguntas e constatações interessantes neste livro que obriga
o leitor a pensar seriamente sobre as políticas públicas e as decisões privadas diante
de um país no qual a realidade populacional muda constantemente. É inevitável
fazer as contas do peso fiscal. Entre 1990 e 2012, o número de beneficiários
da seguridade social teve um aumento 24% maior do que o crescimento da
população de 60 anos ou mais. Nos próximos quarenta anos, o total de benefícios
pode ser multiplicado por 3,3 vezes. Podemos continuar adiando a análise sincera
do que fazer a respeito, mas será uma escolha extremamente perigosa.
Ao analisar as projeções de curto prazo da população, os autores concluem
que “pode-se esperar para as próximas duas décadas uma diminuição da
população de todos os estratos de renda, exceto dos mais pobres”. As famílias de
renda mais baixa estão tendo menos filhos do que antes, mesmo assim no curto
prazo esse grupo tende a crescer. Diante disso, o país tem uma única saída boa:
aumentar a escolaridade dos filhos dos pobres. Só assim será possível garantir o
desenvolvimento do país.
Este é afinal o sentido deste livro: estudar a população e o desenvolvimento,
ou seja, responder que impactos terão sobre o crescimento econômico as mudanças
populacionais que viveremos nas próximas décadas e, por outro lado, como
garantir o desenvolvimento diante do que já está fadado a acontecer no Brasil.
A melhor atitude é sempre ver a dinâmica da população não como algo a
temer, mas como um dado para o qual teremos que nos preparar. O leitor verá,
diante dos 21 estudos de 25 autores, que este livro presta uma contribuição
inestimável a quem quer entender o Brasil e influenciar seu futuro.
Miriam Leitão
Jornalista e escritora
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